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CRONOLOGIA DO USO SUBCULTURAL DO TERMO "GÓTICO"


Artigo da NME em 1980 já fazendo piada com "Gothic" e detonando o Bauhaus


18- CRONOLOGIA DO USO SUBCULTURAL DO TERMO "GÓTICO" (desde os anos 1970 e na imprensa Inglesa):

do livro: "A Happy House in a Black Planet: Introdução à Subcultura Gótica (2008, capítulo 18)

Importante: esse texto é apenas sobre o uso do nome na cultura rock musical. Fora disso os conceitos de góticos já faziam parte da cultura geral, erudita e pop, e por isso puderam ser facilmente incorporados para formar o repertório simbólico da subcultura gótica. Falamos da história da palavra gótico em outro capítulo.

18- CRONOLOGIA DO USO SUBCULTURAL DO TERMO "GÓTICO"

Aqui falaremos apenas sobre o uso do termo "GOTH" (Gótico) aplicado inicialmente a um estilo musical e depois à subcultura de mesmo nome, nos últimos 40 anos.

1967: em um artigo chamado "Four Doors to The Future: Gothic Rock is Their Thing", John Stickney define a banda The Doors como "Gothic Rock". Curiosamente a descrição das características "góticas" da banda nesse texto coincide com o que seria definido como Gótico dez a quinze anos depois. Artigo de 24/10/1967. Newspaper: The Williams Record - Author: John Stickney- Copyright © The Williams Record Essa referência é citada também no site Scathe e aceita como fonte nos livros Goth Bible e Goth Chic. Algo facilmente observável é a influência da banda The Doors já sobre a primeira geracão de bandas Góticas, tanto nas letras, vocais, estilo, quanto nos covers. Citações nos anos 70 parecem comprovar que esta influência era um lugar comum (ver citação de Kent em 29/7/1978, alguns itens abaixo).

1972: Não é sobre a palavra, mas sobre o clima dos anos 70: Em 1972 é lançado o filme "Cabaret", com Liza Minelli, baseado na obra "GoodBye Berlim" de Chistopher Isherwood, sobre os cabarets e a "divina decadência" da Berlim dos anos 1930. Patrice Bollon em "A Moral Da Máscara" relata que este filme teria gerado uma moda em Londres que influenciou o Bromley Contingent (o filme e o musical são citados na biografia "Berlim Bromley", de Bertie Marshal, do qual emergiram várias pessoas que se tornaram referência no pos-punk e no Gótico. Os mais conhecidos são Siouxsie Sioux e Steven Severin, da banda Siouxsie and The Banshees.

1972-1974: "Diamond Dogs" - Em 1974 David Bowie em uma entrevista a respeito do seu álbum "Diamond Dogs" teria comentado que este era "gótico" no estilo (citado pelo DJ inglês Deacon Syth no livro "Goth Bible" de Nancy Kilpatrick e em outros livros sobre música). Podemos encontrar neste álbum elementos que foram adotados tanto por punks quanto por góticos. No figurino de sua tournée de 1972, encontramos o uso de meias arrastão como camisa e as maquiagens expressionistas dos performers do show. "Diamond Dogs" é baseado nas distopias dos livros "1984" de George Orwell , na ficção científica "A Boy and His Dog" de Harlan Ellison e em The Wild Boys de William Burroughs. Algumas canções, como "the evercicling dance of the skeletal family" e outras, falam de uma "Metrópolis" decadente e imunda habitada por seres de Halloween (halloween jack, etc) e personagens de Tod Browning (em "Diamond Dogs"). Tod Browning foi o cineasta que dirigiu Drácula, com Bela Lugosi (1931). A faixa "We are the Dead" é auto-explicativa, além de "1984" e "Big Brother".


1975: Depois do sucesso popular da peça musical nos anos anteriores, em 1975 é lançado o filme "The Rocky Horror Picture Show", no qual o Glam-Rock encontra a "Família Addams" (e seu pastiche de estilo Gótico ) em um filme de terror B dos anos 50. Neste filme vemos todos os elemento da literatura gótica misturados com a estética e música glam que seria chamado de gótico por nós até hoje. Também citado em "Berlim Bromley", de Bertie Marshal.

29/7/1978: Nick Kent na revista NME diz do Siouxsie and The Banshees: "Paralelos e comparações podem ser agora traçadas com arquitetos do gothic rock como The Doors e, certamente, Velvet Underground do começo". Siouxsie and The Banshees lançaram em 1978 seu álbum "The Scream". Kento nos sugere começar a pensar na Siouxsie como "...uma mulher com potencial para ser tornal uma Bowie do sexo fenino." Artigo original completo.

1979: Martin Hannett, produtor do Joy Division, descreve o álbum Closer do Joy Division como "Música dançante, com tonalidades góticas". 1979: O filme "Nosferatu, The Vampyre" (Nosferatu: Phantom of the Night) do cienasta Werner Herzog é lançado, com Klaus Kinsky no papel principal, inspirado na obra de Bram Stokerm com trilha sonora sombria e etérea da banda krautrock Popol Vuh. 1979: Nick Kent uou o adjetivo gothic an resenha do segundo álbum da banda Magazine, indicando que ela tinha um "dank neo-Gothic sound" (som Neo-Gótico frio/úmido" 1979: Bauhaus lança o single de "Bela Lugosi is Dead". As artes dos álbuns e material gráfico da banda trazem imagens de filmes expressionistas de temática gótica e do Drácula de Bela Lugosi. A temática Gótica estava na moda…

23/6/1979: Nick Kent chama o The Cramps de "American Gothick" em uma resenha da revista NME. Texto original: "The Cramps: Tales Of American Gothick - Nick Kent, New Musical Express -

THE TITLE OF the film escapes me, but the scene itself has remained indelibly stained on my brainplate for all of nine years. A strange '50s epic starring Bob Hope and mixing the latter's quick-quipped humour with a truly creepy sense of Gothic horror, the scene itself involves a Bayou swamp across which Hope is being taken by boat to a supposedly haunted mansion hidden deep in Creole mist."

15/9/1979: No programa "Something Else" da BBC TV, Tony Wilson (produtor da banda) descreve o Joy Division como "Gótico comparado com o pop comercial". Na mesma entrevista Bernard Albrecht, guitarrista da banda, reforçou essa noção comparando a música da banda ao seu amor ao clássico filme expressionista Nosferatu (1922), dizendo: "a atmosfera (era) realmente maligna, mas você se sente confortável nela". No vídeo, após 3:35, quando Tony Wilson do Joy Division explica que o Joy não vai tocar no rádio porque é "sinistro e gótico" VÍDEO NO YOUTUBE. BBC television 15 de Setembro de 1979. "Because it is unsettling, it is like sinister and gothic, it won't be played..."


2/10/1979: Penny Kiley escreve em uma resenha "'Gótico se tornou uma definição algo supertrabalhada do gênero, mas o efeito do Joy Division é o mesmo (para pegar um exemplo óbvio) que dos Siouxsie and The Banshees".


1980: "Blitz Kids" - Em 1980 Stephen Linard fez o desfile "Neon Gothic" com modelos com Boy George, Fiona Dealey, Princess Julia (foto abaixo). O desfile do Stephen Linard em 1980 no seu curso de moda tinha modelos do grupo do Blitz Club (que o Bowie chama para o seu vídeo Ashes to Ashes no mesmo ano), como o Boy George. Mais Fotos. Também mais fotos e artigo na revista Gothic Station 3.

Desfile Neon Gothic Collection em 1980


09/1980- No Futurama Festival 2, em Leeds (ver imagens no vídeo aqui), vocalista do Danse Society em performance com visual de vampiro vitoriano em 07:04 do vídeo e Siouxsie Sioux (16:30) em típico visual gótico mas "white cowboy", jáfazendo metalinguagem com o estilo (a imprensa já vinha ironizando o conceito de gótico como vimos na resenha do lançamento do álbum do Bauhaus no mesmo ano) . Sobre esse mesmo festival: "No Futurama de 1980, The Banshees foram headliners de uma das duas noites. O cronista da NME, Paul Morley, apontou que Siouxsie estava ‘modelando seu mais novo visual, aquele que influenciará como todas as garotas se vestem nos próximos meses. Quase metade das garotas no (festival) Leeds usou Sioux como uma base para sua aparência, do cabelo até o tornozelo."

(Reynolds, Simon. Rip it Up and Start Again: Postpunk 1978-1984)

11/1980 - (foto no começo do artigo) Review do Album do Bauhaus na NME até já faz trocadilho como o termo gótico e detona a banda (como era comum na época): "GoThick as a Brick". (veja imagem do recorte no topo da página).


Antes, em 08/1980 a revista Sounds também já tinha brincado com o caráter "gótico" do Bauhaus nessa outra entrevista: "Music for Exorcisms", como pode ser visto na reprodução abaixo:

Sounds, agosto 1980


1980: A revista musical Melody Maker publicou: "Os Joy Division são os mestres dessa obscuridade gótica" (“Joy Division are masters of this gothic gloom”). 1980: (recorte de 1980 abaixo) Depois do lançamento do álbum Closer meses depois, a revista musical Sounds observou que no som do Joy Division havia "toques obscuros de rock gótico" (“dark strokes of gothic rock”). McCullough, Dave (26 July 1980). "Closer to the Edge". Sounds. Young men in dark silhouettes, some darker than others, looking inwards, looking out, discovering the same horror and describing it with the same dark strokes of gothic rock".

Página da revista Sounds, Julho de1980, usando o termo Gothic Rock.

1981: Os comentários abaixo são tirados de "Siouxsie And The Banshees: The Authorised Biography", de Mark Paytress, e se referem especialmente ao álbum "Juju", lançado em 1981. Steve Severin (da banda Siouxsie and The Banshees): "Nós realmente descrevemos "Join Hands" (1979) como "gothic" na época do seu lançamento, mas os jornalistas não se prenderam muito a isso. Com certeza, naquela época nós estávamos lendo muito Edgar Allan Poe e escritores similares. Uma música como "Premature Burial" daquele álbum é certamente Gótica no sentido apropriado". A entrevista é citada em várias outras fontes, como também o livro de Gavin Baddley "Street Culture: 50 anyears of Sunbculture Style"

Fev/1981: Em entrevista com Steve Keaton da Sounds, Abbo do UK Decay diz: "…nós estamos nesta coisa toda de Gótico"...

1982/começo de 1983: O clube Batcave é aberto em Londres. Ian Astbury (Southern Death Cult, The Cult) usa o termo "goths" para descrever os fans do Sex Gang Children, o que é divulgado pelo redator da NME, Stephen Dorrell. Out/1983: O jornalista Tom Vague se refere a "Hordes of Goths" na revista Zig Zag, (cujo diretor era Mick Mercer). Nessa época tanto o termo Gótico como a Subcultura relacionada já estavam estabelecidos... Anos depois de ter sido usado pela primeira vez, o termo se torna aceito e definido.


1983: Marc Almond (Soft Cell) relata sobre 1983: "a moda daquele ano era o gótico-roupas pretas, batom preto, renda preta, cabelo preto - você podia incluir qualquer coisa desde que fosse preta. Rostos pálidos, bijuterias imitando ossos, qualquer coisa que lembrasse morte estava na ordem do dia". Com o crescimento da cena, a imprensa inglesa aceita o nome que se tornou popular: Goth.

Ainda em 1983 é lançado o filme "Fome de Viver" com o Bauhaus tocando "Bela Lugosi is Dead" na abertura, em um clube noturno em que os vampiros representados por David Bowie e Catherine Deneuve vão para buscar suas vítimas… Talvez pela primeira vez no cinema os vampiros são representados de forma mais "sensível".


Em 1983 o termo goths e gothic já estava na mídia. Andi (do Sex Gang Children) relata: "- chamaram meu apartamento de Visigoth Towers pelas minhas costas como piada. Dois músicos que eu conhecia que viviam por perto - Ian Astbury and Billy Duffy (ambos dos primórdios Goth do Southern Death Cult) inventaram o apelido "Gothic Goblin" ou "Count Visigoth". Acho que alguém mencionou isso para um jornalista chamado Dave Dorrell, que então começou a divulgar o termo "Goth". Mas "Gothic" já vinha sendo usado por algum tempo (antes) para descrever vários estilos de música, especialmente Joy Division. Para mim, especialmente, o termo Gothic se refere a algo um pouco mais elaborado e clássico do que o Gótico comercial que temos visto."


MÍDIA TENTA MUDAR O NOME DA NOVA SUBCULTURA e CITAÇÃO EQUIVOCADA

O termo positive punk foi uma tentativa de alguns jornalistas de mudar o nome daquela tendência, por alguns meses (fevereiro/1983), mas o termo não pegou. Mick Mercer comentou: "As pessoas precisam se lembrar que Richard (Richard North da NME que divulgou o termo Positive Punk) não estava falando de nada mais que uma certa atitude de uma poucas bandas no seu artigo sobre o Positive Punk (aprox. Fev/1983) e ele não tinha intenções extras de proclamar um movimento. Ele ficou tão surpreso quanto qualquer um quando o artigo foi para a capa da revista…(..). Foram os subeditores, provavelmente em uma semana fraca, que inventaram tudo. Ele só estava interessado em procurar uma linha de pensamento Punk mais imaginativa, não um movimento."

Artigo de 24/10/1967. Newspaper: The Williams Record - Author: John Stickney- Usando o conceito de gothic rock para música. Copyright © The Williams Record


DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES: Aqui comentamos sobre o termo gótico na primeira geração do Gótico (1978-1983). Sobre os desenvolvimentos posteriores nos aprofundaremos em outra oportunidade. Mas a seguir algumas linhas gerais:

Na Alemanha, desde a virada dos anos 80 para os anos 90, floresceu uma cena "Darkwave-Goth" com o movimento "Neue Deutsche Todeskunst" e com uma imprensa própria especializada tanto na área musical como comportamental. Também existe na Alemanha desde 1992 o maior festival mundial de música Gótica que cresce a cada ano, o Wave Gotik Treffen. Temos desenvolvimentos igualmente importantes em outros países da Europa, e surgimento de novas tendências internas da subcultura gótica global.

Também nos Estados Unidos, onde tanto o lado mais Deathrock quanto o mais Darkwave e Ethereal, ou a mistura com Industrial, florescem até hoje associados a subcultura Gótica, como as bandas ligadas ao selo Projekt. Da mesma forma que a Europa, os EUA também possuem selos importantes lançando artistas de qualidade desde o Gothic-Rock, DeathRock, Ethereal, Synth-Goth, Electro-Goth, Industrial, etc, que representam muito bem a tradição Gótica. Tanto nos EUA como na Europa e até no Brasil novas bandas com novas sonoridades continuam surgindo durante os anos 90 e até hoje.

Importante lembrar sempre que cada continente ou mesmo país usa rótulos ligeiramente diferentes para as mesmas bandas, ou usa um mesmo rótulo em sentido diferente. Comentamos mais essa questão no capítulo 13- Glossário de Estilos Musicais. do livro: "A Happy House in a Black Planet: Introdução à Subcultura Gótica (2008, capítulo 18). H. A. Kipper



























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